Entrevista com Rafael Mantesso, autor de Um cão chamado Jimmy

By Helen Martins - 12/15/2015 07:00:00 PM

Toda noite, ao abrir a porta de seu apartamento, Rafael Mantesso é recebido como um Beatle. O amor incondicional, que o ajudou a superar o término de um casamento e impôs ordem à vida do publicitário antissocial, tem nome e sobrenome: Jimmy Choo.



Após a separação, Rafael se viu num apartamento vazio, acompanhado apenas pelo cachorro batizado em homenagem à grife preferida da ex-mulher. Sem os móveis, o bull terrier começou a correr de um lado para o outro e despertou em Rafael a vontade de fazer algo que ele não fazia havia doze anos: desenhar.

Ao fotografar Jimmy e, em seguida, criar desenhos à mão livre, Rafael criou um mundo novo. Fenômeno mundial na internet, as imagens bem-humoradas estreladas pelo cão inspiraram uma linha de produtos criados pela grife de acessórios Jimmy Choo e o lançamento Um cão chamado Jimmy.

Rafael Mantesso falou ao blog sobre sua história de amor e companheirismo compartilhada com Jimmy e sobre os bastidores do seu primeiro livro .

Confira:

1 – Seria possível dizer que Jimmy ajudou você a superar o fim de seu casamento?

De certa forma, ele mudou sua vida? Bem mais do que isso. O divórcio foi um período traumático, porém, curto. A influência que o Jimmy tem na minha vida é bem mais profunda do que o fim de um casamento. Ele me mostra todos os dias que sou uma pessoa incrível, a melhor pessoa do mundo. Ele me faz sentir pleno, forte, feliz e me faz refletir o tempo todo sobre minhas relações pessoais e profissionais. Para ele é simples o ato de gostar de alguém. Isso para mim é um problema, já que sou um misantropo pré-disposto a não gostar de ninguém.

2 – O que você aprendeu com Jimmy e o que Jimmy aprendeu com você?

Com ele aprendi que amor incondicional existe. É uma forma de amar tão superior que nós, humanos, nunca vamos experimentar. Isso só pertence a eles. Comigo ele aprendeu que existe hora e lugar para fazer xixi, para comer e para dormir.

3 – Como é seu dia a dia com Jimmy?

Meu dia é bem corrido e sem rotina, mas com ele é sempre igual e com rotina. Jimmy me acorda às 6h30 para levá-lo para passear. Levo, ele faz as coisas dele na rua, a gente volta para casa, brincamos, ele come e eu saio. Quando eu volto ele me recebe como se eu fosse um Beatle. Depois, tenho que levá-lo de novo para passear, ele faz as coisas dele, e ficamos em casa até a hora de dormir. Se tenho fotos para fazer, as faço, se tenho que trabalhar, ele fica do meu lado.

Uma foto publicada por @rafaelmantesso em


4 – Logo no primeiro clique, Jimmy foi um sucesso instantâneo. Quais foram, retrospectivamente, os grandes marcos de sua trajetória até o momento em que ele se firmou como fenômeno da internet e como o cão mais badalado do mundo da moda?

Acho que posso separar o Jimmy de hoje para trás em dois marcos importantes. Primeiro, o dia em que eu postei a foto dele atrás da lixeira desenhada e descobri que seria do caralho desenhar ao lado dele. Segundo, o dia que a internet descobriu o Jimmy. Com ela vieram o convite para estrelar a campanha da Jimmy Choo, o convite para o livro… daqui para frente não dá para prever mais nada.

5 – Fotografar o Jimmy é difícil? Como você consegue mantê-lo na pose para as fotos mais complicadas? De que forma ele contribui com o resultado final?

Não, é muito fácil. O mérito é todo dele, sou só o cara com a câmera — poderia ser qualquer pessoa. Ele fica na posição que preciso pelo tempo que eu precisar porque ele é especial, ele sabe que preciso da ajuda dele e ele fica. É simples assim.

6- Jimmy já se recusou a fazer alguma foto? Você se lembra de alguma que tenha sido particularmente desafiadora?

 Nunca. A foto mais difícil de fazer foi a que ele está com o capacete de moto. Senti que o capacete estava incomodando muito o Jimmy, mas precisava do click. A agonia dele entre me obedecer, ficar quietinho e querer desaparecer com o capacete durou 30 segundos. E prometi a mim mesmo que nunca mais faria isso com ele de novo.

7 – Como é o seu processo de composição? Quais são suas principais referências para as montagens com Jimmy?

O dia a dia: os livros que leio, as exposições que visito, as conversas que tenho, os filmes a que assisto. Tudo me influencia porque só faço programas que me inspirem de alguma forma, se não for para agregar nada, fico em casa.

8 – Você poderia falar um pouco sobre os bastidores da produção do livro — das fotografias e definição do conceito à escolha das imagens que seriam usadas?

Quando fui convidado a criar o livro, não imaginava que ficaria tão “livre” para fazer o que quisesse. Tão livre que não consegui nem pensar em uma cronologia para as fotos. Nisso a Livia e a Rosana, minhas editoras da Intrínseca, foram incríveis. Elas me ajudaram a pensar numa linha a ser seguida. Depois que o caminho ficou claro, voltei a Belo Horizonte (estava morando em São Paulo na época), comprei os equipamentos, aprendi a mexer neles via internet, improvisei um estúdio e fotografei todas as noites durante três meses.

Foi cansativo e estressante. Mentalmente eu podia estar destruído, mas não queria que o Jimmy passasse pelo mesmo. Então para ele foram três meses normais. Pensei em desistir e jogar tudo para o alto, mas, desde o início, sabia que teria que fazer o melhor que pudesse, que tinha a obrigação de terminar e de fazer meu cachorro brilhar. Acho que consegui.


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